Anos 80, para nós, uma das épocas douradas do mundo automóvel. Uma época repleta de inovação, que nos trouxe muitas tecnologias que ao longo do tempo foram desenvolvidas e que ainda hoje são utilizadas nos automóveis modernos.
Para os que acompanham mais de perto o mundo da competição, foi também uma geração de pilotos gloriosos ao volante de máquinas grotescas e de proporções inimagináveis, mesmo segundo os parâmetros do dia de hoje.
Deixámos alguns dos exemplos de modelos que, na nossa opinião, marcaram os anos 80:
Ferrari F40
Com ambição de participar em Grupo B, Enzo Ferrari foi convencido pelo seu engenheiro Nicola Materazzi a criar uma versão mais potente do seu mais recente modelo - o Ferrari 288 GTO, dando-lhe o nome de Evoluzione, para competir na classe de 4 litros (2.857 se turbo) - classe onde correria também o Porsche 959. No entanto, estávamos em 1986 e o Grupo B estava prestes a ser cancelado, deixando Ferrari com 5 exemplares que não poderia utilizar em nenhuma categoria do mundo da competição.
A solução? Enzo e Materazzi foram convencidos a utilizar a base que tinham criado, construindo um modelo não voltado para o desporto, mas sim para o uso em estrada. Desenhado no sentido de deixar o legado e para comemorar o 40.º aniversário da marca de Maranello, este foi o último modelo a ser aprovado pessoalmente por Enzo Ferrari. Com uma produção reduzida (cerca de 1.300 unidades), foi um lançamento mediático por diversos motivos, o primeiro dos quais por ser - à época - o Ferrari mais rápido, mais potente e mais caro à venda. Outro assunto de mediatismo foi o duelo com outro modelo que abordaremos mais à frente - o Porsche 959.
A nível técnico, este modelo veio para substituir o Ferrari 288 GTO, usando uma versão aumentada do motor deste - um V8 de 2.9 litros de capacidade - equipado com biturbo e que produzia 478cv às 7.000rpm. A potência era passada através de uma caixa manual de 5 velocidades, apenas para as rodas traseiras e tinha capacidade para levar esta lenda até aos 324km/h.
Com o foco na redução de peso, utilizaram-se materiais especiais leves mas resistentes, nomeadamente fibra de carbono, alumínio, kevlar e até mesmo as janelas de vidro foram substituídas por Perspex - uma espécie de liga acrílica. E por falar em janelas, sabia que as primeiras unidades possuíam vidros fixos? Pois é! Mas, mais tarde, foram adicionados os postigos deslizantes para algum contacto com o exterior ou vidros de controlo manual. Apesar de possuir ar condicionado, a bem da redução de peso, o carro não possuía sistema de som, maçanetas internas, porta-luvas ou acabamentos luxuosos em couro ou carpetes, materiais típicos de modelos desta marca. Tudo isto conferia um peso de apenas 1.100kg!
fun fact: sabia que o lettering "F40" está apenas presente do lado do pendura no spoiler traseiro?
Porsche 959
Considerado na época o modelo tecnologicamente mais avançado, entre outros aspetos, foi o primeiro modelo de estrada de alta performance de tração às quatro rodas. Este aspeto permitiu que a marca lançasse posteriormente o seu primeiro 911 com tração às quatro: o 911 Carrera 4 (geração 964).
Foi desenvolvido inicialmente para o Grupo B, cumprindo os regulamentos de homologação da FIA, tendo sido produzidas mais de 300 unidades, ultrapassando as 200 exigidas. No entanto, o longo tempo de desenvolvimento e testes no Paris-Dakar (que não requeria unidades de homologação) fez com que quando o modelo estava pronto para competir, o Grupo B tivesse sido suspenso.
Continuando a comparação com o modelo que abordamos anteriormente, vários foram os jornalistas e críticos que os ladearam, mas tendencialmente a opinião mais favorável era o triunfo da Porsche sobre a Ferrari.
Este modelo possuía um motor de 2.8 litros de capacidade, também biturbo, mas boxer de 6 cilindros e que produzia 450cv às 6.500rpm - valores ligeiramente abaixo do Ferrari, mas ainda assim bastante competitivos. A nível da transmissão era também manual mas de 6 velocidades e a tração era gerida através do sistema PSK (Porsche-Steuer Kupplung) que poderia "atirar" a potência para o eixo traseiro até 80%, dependendo da aderência ao piso.
Tal como no F40, a questão do peso era importante, mas ao mesmo tempo existia uma preocupação (e respeito) pelos ocupantes. Com acabamentos de luxo como a marca habituou sempre os seus clientes, havia pele em todos os locais possíveis, bem como sistema de som! As jantes têm um design único para este modelo e eram feitas em magnésio e possuíam um sistema de monitorização da pressão dos pneus. Quanto à estrutura em si, o carro era composto por alumínio e kevlar, sendo que o chão foi substituído o tradicional aço por nomex - um polímero de alta resistência com base de nylon.
fun fact: sabia que a Porsche venceu o Paris-Dakar com um 959 em 1986, tornando-se assim a primeira marca que venceu todos os tipos de corridas e campeonatos que disputou?
BMW M3
Depois de dois colossos, falaremos de um modelo mais "comum", mas que ainda assim não menos especial. O BMW M3 E30 tem como base a segunda geração da série 3, mas no entanto foi o primeiro série 3 a ter um tratamento da M division.
Devido à necessidade de produção para homologação para o DTM e Grupo A Touring, a marca bávara teve de produzir 5.000 unidades do modelo para utilização em estrada.
Disponível em dois tipos de carroceria: coupé 2+2 (como na imagem acima) e cabrio, era um modelo bastante ágil, passando um feeling de condução muito além do esperado. Tal como todos os modelos M, a sua intervenção destaca-se a nível de motor, direção, travagem, aerodinâmica, uso de materiais leves e vários upgrades de interior.
Esteticamente são facilmente reconhecidos os seus para-choques frontais e alargamento de vias em formato boxy, mas que todos adoram. Não esquecendo, claro, as jantes de 16 polegadas multirraiadas!
Quanto à mecânica, este modelo é equipado com um motor de 4 cilindros em linha, que os mais aficionados o conhecem por S14, um motor que produzia 200cv às 6.750rpm, passando a potência através de uma caixa manual de 5 velocidades (dogleg) para o eixo traseiro.
fun fact: sabia que o para-brisas do M3 E30, em vez de ter borracha e moldura, é apenas colado por questões de peso?
Peugeot 205 T16
Se o exemplar que abordamos anteriormente era uma versão mais extrema do modelo que lhe serve de base, este T16 eleva a fasquia.
Tal como o M3, esta versão serviu como modelo de homologação, mas para o insano Grupo B. Foram assim construídas 200 unidades de estrada do T16 (ou Turbo 16) e que tinham um preço cerca de sete vezes superior a um 205 GTi. A título de exemplo, pelo mesmo dinheiro era possível comprar um Ferrari 308 GTB, o que era aparentemente exagerado, mas... o 205 era um autêntico carro pronto a correr!
É considerado por muitos como um dos melhores hatchback de todos os tempos. Nos ralis que entrou, foi capaz de competir e vencer outros mitos como os Lancia Delta S4 da sua classe ou os Audi Quattro e Lancia 037 da classe superior. Durante a sua presença no Grupo B, o 205 T16 era imbatível, tendo ganho 16 dos 28 ralis em que participou - o que foi um record em todo o Grupo B - tendo ganho também o título de construtores e de pilotos nos dois últimos anos de realização do Grupo B em 1985 e 86 respetivamente com Timo Salonen e Juha Kankunnen ao volante.
A versão de estrada, à imagem e semelhança das versões GTi/CTi e Rallye, é um verdadeiro carro carregado de vitamina e adrenalina. Por questões de distribuição de peso, o motor de 1.8 litros é posicionado a meio do carro. Produz uma potência máxima de 200cv às 6.750rpm, colocando a potência no chão através de tração integral, com auxilio de uma caixa manual de 5 velocidades.
fun fact: sabia que temos um 205 para venda? Não é um T16, mas é uma versão igualmente especial. Conheça-o aqui!
Mercedes E60 AMG "Hammer"
Depois do sucesso do Red Pig, a empresa AMG recém-criada por dois antigos funcionários da Mercedes-Benz, decidiu criar mais um monstro que é inesquecível dos anos 80. Foi tão marcante à época que levou a Mercedes a fazer um acordo de cooperação, sendo que mais tarde (final dos anos 90) a Mercedes comprou 51% das ações da AMG, acabando por a integrar, de certa forma, dentro da estrutura da Mercedes.
Este exemplar tem como base a plataforma W124 do 300E, retirando o motor de 6 cilindros e colocando um motor V8 de 5.5 litros de capacidade do Classe S que, com uns "pozinhos" adquiriu logo 60cv, ou seja, um total de 355cv (o que, em termos comparativos era mais 125cv do que o Corvette da época).
Mas a insanidade não terminou por aqui. Como se não fosse suficiente, a AMG conseguiu alargar a capacidade do motor de 5.5 para 6 litros, passando a potência máxima para os 385cv! Tudo isto, aliado a uma caixa automática de 4 ou manual de 5 relações e tração traseira, fazia com que o sedan AMG "Hammer" envergonhasse os maiores desportivos da época, como o Porsche 911 Turbo, por exemplo.
fun fact: sabia que quando a AMG lançou este modelo, não tinha um nome para ele? O nome "hammer" advém de uma opinião de um jornalista automóvel que, ao experimentar, disse que a aceleração do carro era de tal forma que parecia que tinha sido atingido por um martelo (hammer) nas costas. O nome ficou, quer pela perfeita descrição do que o carro é capaz, quer porque a palavra hammer tem o mesmo significado em inglês e alemão.
Comments